terça-feira, 28 de maio de 2013

Eu, Servejão, 40 anos, drogado, prostituído...

A noite encalorada do final de semana implorava por uma cerveja gelada. Eu implorava desde bem mais cedo. Naquele sábado estávamos eu, Nicolas e nossa sabedoria milenar bebendo no Sal Grosso, Largo da Ordem, desde as 15h.

Invariavelmente nosso papo filosófico casual era interrompido por vendedores de toda espécie oferecendo os mais diversos produtos. Acho que o único que não parou em nossa mesa foi o hippie que escreve nome de mulher em arame e diz que é um “porta incenso” (embora eu saiba bem que aquela estrelinha que ele molda junto é um pentagrama satânico para amaldiçoar os incautos que nele deixam colocar seu nome), e ele só não parou ali pela ausência de mulher mesmo. Mas, salvo esta exceção, os demais marcaram presença, em intervalos irregulares: a moça carismática do chiclete, o hare krishna stalker (encontrou-me na rua outras vezes após esse dia e me reconheceu, mas ainda não me convenceu), o poeta barbudo com seus poemas concretos para os quais até o Arnaldo Antunes torceria o nariz, o vendedor de pocket books com cara de presidente da UNE e também o músico rasta que insiste para você ouvir suas músicas mesmo que você não queira e só larga do teu pé quando ouve uma opinião sincera sobre seu trabalho. Enfim, um sábado como qualquer outro.

Ao escurecer, começou uma chuva repentina só para nos lembrar de que estamos em Curitiba, e mudamos para uma mesa dentro do bar. Apesar de não podermos ficar na parte de fora (que é mais legal), a chuva indicava que, pelo menos, os chatos não apareceriam mais pra incomodar nossos profundos diálogos. Eu estava redondamente enganado. Bom, considerando minha forma física, estou sempre “redondamente” alguma coisa. Mas, enfim, a essa altura o álcool já pregava peças em minha mente e posso dizer sem medo que eu estava no brilho. Eis que chega um indivíduo e começa a falar coisas sem nexo pra gente, muito aquém do nosso padrão de qualidade em conversas. É sempre a mesma história, se você ri de algo que um bêbado desconhecido e chato fala, seja por educação ou por afinidade etílica, o sujeito não vai sair dali tão facilmente, pois acredita ter encontrado seus semelhantes. No caso, fomos apenas educados mesmo e pagamos o preço. O cara simplesmente não parava de falar e realmente começou a incomodar. Até que um gesto singelo do meu amigo Nícolas, um golpe rápido (para alguém alcoolizado) que torceu a mão do falastrão sem noção, fez o rapaz sentir vergonha de seus atos e este resolveu sair do recinto, provavelmente em direção à sua casa para descontar as frustrações no cachorro de estimação.

A calmaria, então, fez-se presente em nossa mesa por um período. Um breve período. Porque, logo que voltamos a conversar e enquanto eu escutava o relato das aventuras de Nicolas aprendendo golpes desse tipo na Malásia, literalmente cai sentada ao meu lado uma moça loura, seios tão fartos quanto a pança, calça sem cinta (mas precisando de uma), olhos fundos, cabelo desgrenhado, cara de perdida. Antes que pudéssemos dizer qualquer coisa, ela nota o copo cheio e manda o papo reto pro Nicolas: “me dá uma cerveja, chupo você todinho. Chupo ele também [aponta o nariz pra mim], chupo vocês dois, aguento o tranco”. Francamente, eu não sou de me surpreender com essas coisas, mas tudo aconteceu muito rápido e eu já estava meio grogue mesmo.

Não costumamos ceder à tentação tão rapidamente, então puxamos assunto com a moça e descobrimos que seu nome é “Isa” e que ela é fã do Jean Willis e de suas ações como deputado (opa!). Mas, devido ao estado etílico da jovem, o papo não evoluiu grandes coisas, e aí, Nicolas, com seu timing perfeito para não deixar morrer o entretenimento, propôs a ela um desafio: “eu te pago uma cerveja se você der um beijo no meu amigo”. Ela “claro, agora mesmo, esse aqui? [apontando com o nariz pra mim de novo]”, me puxou pelos meus cachos encaracolados e me tascou um beijo na boca. Só percebi segundos depois, porque já estava miando de bêbado. Nicolas, não satisfeito, pediu bis (esse povo voyeur...), no que prontamente foi atendido e eu, presenteado com mais um beijo. Pegamos uma Heineken e mais um copo e a servimos. Tomou um talagaço e disse que precisava ir ao banheiro urgentemente (modéstia à parte, provoco essas coisas nas mulheres). Saiu levantando as calças (mas não muito) e durante o tempo em que a moça ficou ausente, só lembro-me das gargalhadas do meu amigo, apontando o dedo para minha cara.

Ao voltar, ela não voltou. Passou despercebida pela nossa mesa e foi encontrar outras pessoas legais para fazer amizade. Senti-me usado, não por ser velho, mas porque nunca mais a vi. Ao menos, sobrou a garrafa ainda cheia de Heineken e a marca dos lábios na borda do copo de cerveja. Não lembro, claro, como cheguei em casa.

6 comentários:

  1. ahahahah....... isso é Plínio Marcos: "Dois Perdidos Numa Noite Suja."

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  2. Adorei o blog. Apesar deles terem cara de tiozões bebados que pegam prostitutas baratas em botecos sebosos eles parecem caras bem legais. E Nicolas é meu amigão do finado orkut que sempre elogiava meu diminuto intelecto. Vida longa ao blog. E a vcs claro.

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  3. Servejão F., ahahahahahahahahahahahahahah

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