segunda-feira, 24 de junho de 2013

Porque acordamos

Sete horas da manhã e a família toda acorda. A esposa prepara o café porque hoje a empregada faltou (de novo), o filhão se arruma pra mais um dia de escola e, depois, aula de piano, e eu tomo um banho e coloco meu terno azul marinho preferido. Durante o café, damos risada e planejamos o fim de semana, afinal, hoje é sexta. Peço para meu filho ver o que está passando nos cinemas e ele me diz que estreou o novo Homem de Ferro. Digo que é esse mesmo que vamos ver, acabo meu café e falo pra ele se apressar para que eu possa levá-lo para a escola. No caminho, um trânsito infernal. Parece que todo mundo pode comprar um carro agora, e mesmo assim vejo ônibus cheios. Esse pessoal brota da terra, acho. Paro em frente à escola do meninão e ele me pede 100 reais, para comer e ir ao shopping depois da aula. Recentemente tive que cortar a mesada dele para um valor em torno de 400 reais, porque não tá fácil pra ninguém. Dou os 100 reais que ele pediu e vou ao trabalho.
Na hora do almoço com os colegas, eles sugerem uma churrascaria, e nós vamos. Chegando lá, me espanto com o preço: 42 reais por pessoa. Por isso tem gente morrendo nesse país. Durante o almoço, meus companheiros de trabalho parecem indignados como eu. Um deles teve que cancelar uma viagem em família para Las Vegas porque o dinheiro está curto. Outro não vai poder trocar de carro esse ano. Comento que enquanto nós, trabalhadores, muitas vezes passamos necessidades, tem muita gente recebendo bolsa-esmola por aí. Triste ver o país indo para o buraco desse jeito. A tarde passa.
À noite chego em casa, a família reunida vendo filme no pay-per-view e se divertindo, e junto-me a eles. Foi um ótimo final para o dia.
No dia seguinte, sábado, acordamos um pouco mais tarde e pulamos o café da manhã. É dia de shopping e cinema com a família. Minha esposa sugere um restaurante para o almoço, e eu falo que hoje seria melhor comermos no shopping mesmo, para economizar e não passar dos 150 reais. E lá vamos nós. Após o almoço vamos para o cinema, e na hora de comprar os ingressos me surpreendo mais uma vez, pois filmes em 3D estão muito caros. Dessa vez vamos assistir ao filme, mas no próximo sábado vamos ver algum filme em casa mesmo, no pay-per-view de novo (cultura e lazer nesse país são coisas cada vez mais distantes de nós, pessoas normais). Após o filme, vamos pra casa da minha sogra, pois meu filho vai dormir lá, para que eu e minha esposa possamos sair à noite.
Anoitece, minha esposa se arruma, linda como sempre, e eu boto a calça saruel que comprei essa tarde, e uma camiseta branca, bem básico e moderno. Vamos para um barzinho na Avenida Batel, curtir o bom e velho Rock'n'Roll. Nem preciso falar que a conta foi alta, e que agora estou mesmo convencido de que morar nesse país está cada vez mais caro e díficil. Na saída do bar, deparo com outra situação cara: o menino que cuida dos carros. Como estou com o orçamento apertado, dou apenas 10 reais para ele. Eu e minha esposa seguimos para um motel e, pasmo, vejo que apenas 2 horas lá custam mais que o salário da empregada que falta toda vez que o filho está doente.
No dia seguinte pegamos nosso filho na minha sogra, que insiste em fazer almoço para a gente. Eu digo qe não precisa e vamos em um restaurante qualquer. Depois do almoço meu filho pede para que eu o deixe na casa de um amiguinho, e mais 50 reais. Eu dou o dinheiro, afinal o moleque ainda não se acostumou com a nova verba mensal. Minha esposa sugere irmos ao shopping passar o tempo e eu concordo, porque lembrei que preciso de um celular novo.
Chegando ao shopping não encontro vaga para estacionar. O lugar cheio de carros velhos e adesivos provavelmente falsos de deficientes físicos. Estressante. Vejo, enfim, um Chevette saindo de uma vaga e entro na mesma, me perguntando o que é que o dono desse carro poderia ter ido fazer no shopping. Estranho. Dentro do shopping, dou uma volta com a esposa, compro o novo IPhone e vamos para a fila do McDonalds, pegar uma casquinha. Fila enorme, diga-se de passagem. Cheia de mulher com cabelo ruim e filhos gritando,se jogando no chão e com brinquedinhos de plástico. Pegamos nossos sorvetes e vamos em direção à fila para pagar o estacionamento. De novo, muita gente. Gente com chave de Kadett, gente contando moedas, gente cheia de sacola da Renner. Enfim ,vamos embora. Pegamos nosso filho na casa do coleguinha e vamos para nossa casa ver Fantástico.

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