domingo, 2 de junho de 2013

Que horas são?

Chego ao ponto de ônibus alguns minutos antes do horário, como de costume. Sou velho e cheio de manias: tento chegar sempre um pouco antes em todos os lugares, só coloco meia e amarro cadarço começando pelo pé esquerdo, não experimento comida em restaurantes, não gosto de comprar roupa, durmo em qualquer lugar quando bebo muito (até em escada de zona, ao lado da caixa de som no volume alto), entre outras coisas. E não uso relógio de pulso. Nada demais, só não curto mesmo. O problema é que em certas situações eu procuro constantemente saber as horas, quantos minutos se passaram desde a última olhada. E esperando ônibus é uma situação desse tipo.

Frio pra caralho, pego meu celular do bolso para ver as horas. É do tipo flip, comprado há uns cinco anos, mais por insistência da namorada que não agüentava mais me ver com o celular mais antigo que parecia um tijolo com botões. E começo a pensar nisso, por que nunca mais troquei de celular? Todo mundo aí de smartphone, touch screen e tal, podendo tirar foto de comida, interagir online enquanto está numa reunião com amigos... E eu nem câmera tenho no celular. Fecho o aparelho e o guardo no bolso. E lembro que não vi as horas.

Dou risada da minha idiotice, olho pra rua, nem sinal do ônibus ainda, e pego o celular no bolso novamente. Abro o flip e lembro que não deveria ter deixado o aparelho no bolso da frente, que está rasgado e ele poderia cair no chão sem eu perceber. Minha calça só tem um bolso que realmente presta, sei que está na hora de comprar outra, mas tem aquela mania que comentei lá em cima, odeio comprar roupa, deixo sempre pra quando não tem mais jeito mesmo. Guardo novamente o celular, certificando-me de colocá-lo no único bolso decente da calça. E me xingo por ter esquecido de ver as horas de novo.

Penso comigo mesmo “deixa de ser burro e veja a porra do horário!” e pego novamente o maldito celular. Até respiro fundo pra facilitar a concentração, mas acabo tossindo porque esqueci que estou com bronquite. Aí me vem na lembrança aquela música que fala sobre... “Não! Foda-se a música, veja a porra do horário, energúmeno!” Quase me distraí de novo. Esvazio então a mente e olho pra tela. Consegui, celular bastardo! De tão animado quase não ouço o ônibus chegando.

Dou sinal, entro, pago e me acomodo, mostrando meu semblante de vencedor. Escuto um trecho da conversa entre um passageiro e a cobradora: “Nossa, hoje atrasou, hein?”. Talvez pelo meu pequeno drama com o aparelho não tenha percebido isso, e mentalmente começo a fazer a conta do tempo do atraso. O problema é que vou ter de pegar o celular no bolso novamente, porque já esqueci que horas são.

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