domingo, 16 de novembro de 2014

Eu, cidadão de bem, 40 anos, revoltado e destituído

Hoje eu estava em um shopping com minha mulher e meu filho quando vi uma menina beijar a outra. Na boca. É, na boca. Nojento, claro. Na hora peguei meu filho no colo e tapei os olhos dele, para que ele não visse duas pessoas demonstrando afeto e amor. Quando passamos ao lado delas, chamei-as de lixo e falei que deveriam morrer. Não tampei os ouvidos do menino para que ele pudesse ouvir o paizão agindo certo. Fomos ao cinema ver um filme onde centenas de pessoas morrem de forma limpinha, como na realidade. Preciso educar o moleque desde cedo.
Depois do filme terminar, ele queria ir brincar no parquinho, mas puta merda, eu não tenho saco pra brincar com criancinha e mandei minha mulher ir lá com ele brincar. Fui tomar uma cervejinha e dar uma olhada nas gostosas. Que erro, amigos. Quando sento com meu Chopp, na mesa ao lado, o que eu vejo? Um casal de bichonas, claro. Fiquei olhando, incomodado com eles. Vocês acreditam que eles estavam sentados um do lado do outro, bem pertinho? Fiquei puto. Estava só esperando um pegar na mão do outro, como se fossem um casal de verdade. Opa, pegaram. Filhos da puta!!! Levantei e fui na frente deles, falar poucas e boas:
 -Escuta aqui vocês dois! É, vocês dois aí de mãozinha dada, fazendo nada contra minha integridade física ou moral, cuidando das suas próprias vidas em um local público. Que putaria é essa? Pegando na mão do outro. Que porra é essa, cara? Tua sorte é que deixei minha arma em casa. Aham, a arma que eu não tenho direito de usar, eu deixei em casa, senão eu dava um tiro na tua cara de viado, seu viado.
 E saí de perto, confiante que, porra, fiz o certo. Claro que fiz o certo, porque hoje todo mundo acha lindo, e eu, o certo, sou chamado de opressor. Logo eu, homem, branco, hétero, classe média, que nunca teve nenhum problema com nada, nunca fui nem molestado quando menino e minha mãe assoprava meu dodói depois de passar Mertiolate. Eu não preciso, e não aguento, ver coisa errada assim. Fui encontrar minha mulher e o filhote, pra irmos embora. 
No caminho pro parquinho do shopping escuto uma música dentro de uma loja. É samba. Música de preto. Acelero o passo.
Na frente da Centauro encontro um antigo amigo meu, do tempo de escola, quando eu tinha cabelão liso até a cintura e a meninada adorava. E eu tocava violão, podia escolher qual menina eu queria pra dar um trato. A gente dá um abraço, pergunta como vai a vida e ele me pergunta da dentista aqui de Curitiba, que era traficante, e também comenta de uma foto que viu no Facebook, mostrando que cada cidade tem traficante que merece, com uma foto dela e uma foto de um traficante pretinho do Rio de Janeiro. Falo que aqui é assim, que o cara vem pra Londres, até traficante é gata, né? Aí, depois de um papo rápido, vou finalmente atrás da minha mulher. Pego ela e vamos embora, achando que o sossego do lar me espera.
No carro, conversando com ela, ela me fala que amanhã é dia de pagar funcionário. Que merda dar dinheiro pra essa gente. Ela fica falando e eu me distraio, encostando em outro carro. FILHO DA PUTA!! Cara, fico puto e saio do carro, o outro cara também, bravo comigo. Tiro meu soco inglês do bolso e encho a cara do viado de porrada. A mulherzinha dele grita de dentro do carro, e eu falo pra ela ficar lá, senão leva na cara também. Depois de ensinar o cara a não ser burro, pego meu carro e vou embora.

 Chego em casa, pego meu violãozinho, acendo meu baseado (depois do moleque dormir, pra ele não ver. Porque é errado) e fico de boa. Amanhã, amigão, é outro dia, outra luta.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Pra Duds

Eu não a conhecia tão bem como outros professores, mas ainda assim, durante o curto período de tempo em que foi minha aluna, a Duds, como eu a chamava, se sentiu à vontade para falar comigo sobre a vida dela, sobre o namorado, a escola, a preocupação enorme em reprovar porquê não andava estudando direito e para, um dia, após a aula, me abraçar e chorar por causa de tudo que achava que estava errado na vida dela. E eu nem a conhecia direito.
Ela me encontrava no ônibus, tirava um fone do meu ouvido e ficava ouvindo o que eu estava ouvindo na hora, geralmente falando que não imaginava que eu ouvisse aquele tipo de música. Eu a encontrava na escola e ela falava rápido: ''oi teacher, tá tudo bem? ah, eu consegui ir bem na escola'' ou algo do tipo.
Durante os quase 7 anos em que dei aula, alguns alunos acabaram fazendo mais parte da minha vida do que outros. A Duda não fazia parte da minha vida fora da escola, e até mesmo lá dentro eu quase nunca a via. O que não diminuiu em nada o sentimento desanimador da manhã de domingo, quando fiquei sabendo o que tinha acontecido. Não diminuiu em nada a sensação de desperdício.
A Duda decidiu que agora era a hora de parar. Que não dava mais. Os motivos eu não sei, porquê como falei, não a conhecia direito. O que eu conheci nesse domingo foi o sentimento de que o mundo agora tem um futuro a menos. Uma menina que viveu pouco e quis parar. Pra gente, de fora, ela ainda teria vários anos pela frente, e provavelmente se daria bem, porquê era bem mais inteligente do que achava que era. Agora, vendo a página do Facebook dela, com amigos falando que a amavam, que vão sentir falta dela, eu, que não acredito em céu, inferno ou coisas do tipo, continuo crendo ainda mais que o que importa é a vida aqui. E que, depois que a gente para de existir, nossos amigovão sentir nossa falta e continuar nos amando. Do mesmo jeito que os amigos da Duda a amam.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Malafail

1:57h. Malafaia dorme tranquilo, após mais um dia de luta contra tudo que há de errado no mundo, como gays e preços altos. Ouve, então, um barulho vindo da sala. A esposa, assustada, fala que pode ser ladrão, ao que Malafaia prontamente responde: ou gays.
Ele veste as pantufas e desce as escadas. A TV ligada no ''Fala que eu te escuto'', barulho de Doritosendo mastigados e risadinhas. Um homem cabeludo e com roupas largasentado no sofá olha para Malafaia, e ao falar ''oi'', é surpreendido:

- PORRA, MEU, QUE MERDA... - grita Malafaia.

- Olá, Silas. Desculpe te acordar...- calmamente fala o cabeludo.

- Cacete, cara, quem é você, o que você... caralho!! 

- Você me conhece, meu nome é Jesus. Vim falar com você.

- Puta que pariu, não acredito, como...

- Fica calmo, filho. Respira, toma uma água.

Malafaia vai pra cozinha e toma um copo de água, ainda sem entender direito o que está acontecendo. Volta pra sala e pergunta:

- Como você entrou aqui?

- Já falei, sou Jesus. Lembra que eu saí de boa do túmulo? Agora senta aí que preciso falar com você.

- Claro, claro - fala Malafaia, alegre, porque puta merda, O FILHO DE DEUS tá ali, na frente dele. Comendo Doritos.

- Então, eu e meu pai, a gente sabe tudo que acontece aqui, e nunca interferimos nas decisões que vocês tomam, nem nas erradas. A gente lá no Céu acha que todo mundo aprende errando e tal.

- Você veio me parabenizar pelo trabalho que eu faço em seu nome?

- Ehr....então..muito massa você falar que ama eu e o pai e tal...a gente curte...mas eu não vim pra isso.

Malafaia dá um golão no copo de água.

- Eu vim aqui pra te falar, de boa, não tô brigando não, tá...que você exagera.

- Mas...

-Não...peraí, fica quieto um pouco..deixa eu falar. Continuando, você exagera, cara. O Brasil tá numa época importante e tal, daqui a pouco tem que votar..e você tá enchendo o saco. Vieram reclamar comigo, não vou falar quem porquê não interessa, mas vieram. Falaram que você tá pegando pesado com a galera gay e fica enchendo a candidata lá, a Marina, mandando mensagenzinha na Internet, ameaçando dar bronca nela. Cara, não é bacana fazer isso, o pai fica puto. 

- Mas os gays querem dominar tudo e enfiar nas nossas goelas oseus...

- Pintos? Acho que não, né, cara? Continuando...

-Mas...

Nesse momento Jesus estala os dedos e Malafaia fica mudo e é obrigado a ouvir:




- Porra, você é foda. Me deixa falar. Então, galera que não é ''cristã'' (Jesus faz aspas com os dedos) tá falando que você é um pé no saco, ignorante e tal. E quem acredita em mim te segue porque tem medo e tal, nada de mais. Porém, lá no Céu, a gente vê que você é um ignorante, sério, você é loucão, cara. Você vive falando de Bíblia, que, aliás, tem um monte de parada que a gente escreveu chapado de vinho, e falando que Deus não curte gay e tudo mais. Velho, se liga. A gente curte todo mundo, menos você quando tava de bigode. Eu perdoei o ladrão na cruz lá, como que não vou curtir viado, que não faz nada pra ninguém? E eu sei o que você tá pensando. Tá curioso em saber onde que tá tua mulher. Eu fiz ela ficar com vontade de mijar e tranquei no banheiro, porque mulher é um porre. E ela te acha um saco também. Ontem ela orou pedindo pra vc odiar menos e comer ela mais. Te juro.

-Mmmmmm - murmura Malafaia, puto da cara com Jesus.

- Quieto, cara. Então, aí tem o lance da Marina. A mina é influenciável, cuzona e tal, e você fica aterrorizando ela. Para com essa merda. Você quer foder o país todo, né? Deixa ela fazer as merdas dela em paz e cuida da tua vida. Ah, e para de roubar também, porque a gente acha foda você usar meu nome pra pegar grana de quem confia em você. Tipo, você tá fazendo tudo errado. Mas vou te dar mais uma chance.

Jesus come mais um Doritos e limpa a mão na roupa branca, deixando uma mancha laranjada:

- Ah, merda. Vou pra casa. Mas antes, resumão do papo: parar de roubar, parar de odiar gay e quem não curte religião, parar de agir com raivinha, deixar a Ma em paz, cuidar da tua vida, transar mais e semear o amor, igual eu falei há um tempão. Ok? Vai ficar calminho?

Malafaia faz sinal de sim com cabeça. Jesus então estala os dedos novamente e Malafaia volta a falar. Chorando, ele perde perdão. Jesus fala que tá tudo beleza, pega outro pacote de Doritos e fala que nenhuma comida no Céu é tão boa quanto aquilo, e que o que acabou de acontecer ali é segredo deles. Jesus vira uma bola de luz e some. Malafaia, perplexo, vai abrir a porta do banheiro pra mulher sair.


domingo, 27 de julho de 2014

Judite, sua puta.

Há mais ou menos 3 semanas eu coloco crédito no meu celular, e mesmo com aquela merda de dados móveis desligada, sem mandar sms e sem ligar pra ninguém, a TIM tá tirando meus créditos. Fico puto, porque não uso e lá se vão 0,75 centavos todo dia.
Decidi então ligar pra TIM e ver o que estava acontecendo. A atendente me dá oi e tal, pergunta meu nome e o qual é o problema. Eu explico que não tô usando internet e tudo mais e ainda assim fico a cada dia com menos crédito, e que isso vem ocorrendo há 3 semanas. Ela me fala que agora os dados móveis estão ligados e que ontem eu usei internet, sms e liguei pra um número da Claro. Eu, paciente, falo que estou ciente de ontem, e que há 3 semanas eu recarrego o celular, e, usando ou não usando, meus créditos desaparecem. Ela responde que agora os dados móveis estão ligados e que ontem eu usei a internet. Eu repito que ontem eu usei mesmo, mas que há 3 semanas estão tirando meus créditos, mesmo com tudo desligado e sem eu usar nada, HÁ 3 SEMANAS.



Aí eu percebi que ficou pessoal. O tom de voz dela engrossou, ficou mais arisca e agressiva, falando que ontem eu usei a internet, mandei sms e liguei pra um número da Claro. Eu, notando a atitude dela, repeti que toda essa tragédia está acontecendo há 3 semanas. Foi aí que ela ultrapassou os limites e me respondeu: ''não tem como''.
Fiquei sem saber o que falar, porque ela foi muito vaca. Destruiu minha queixa com um golpe sujo, bem babaquinha. Depois ela me falou pra eu mudar não sei o quê no celular pra ''manual'. Desliguei na cara dela e liguei de novo, pra ser atendido por outra pessoa, que eu esperava que fosse mais humana e me ajudasse.
Liguei, a mulher me atendeu. Sistema inoperante. E até agora eu não achei a merda que é pra mudar pra ''manual''.


segunda-feira, 31 de março de 2014

Pro inferno com os vizinhos.

 ''O inferno são os outros''. Quando Sartre disse essa frase, tenho quase certeza que ele estava se referindo aos seus vizinhos. Porque vizinhos são uma merda. É provável que eu não tenha moral pra falar isso, porque peido demais e eles devem ouvir cada vez, mas tento ao máximo ser um cara legal.
Por outro lado, meus vizinhos devem se esforçar para irritar. Tal qual imagino a família do Leatherface no seu cotidiano, eles parecem ser um grupo de lunáticos, a começar pelo moleque sociopata que deve estar nos seus 11 ou 12 anos. Ele tem uma cachorrinha, provavelmente a única no mundo que torce pra ser abandonada, porque o pequeno bipolar a chama carinhosamente e, se ela demora 3 segundos para olhar pra ele, é chamada de vagabunda. Além de tudo o merdinha ainda é machista.
Fora ele, ainda moram na casa o pai, que só grita com o moleque e o chama de chato, o que explica o comportamento do mesmo, a mãe, que é uma cabeleireira meio perua (e alguma não é?) e a irmã e o marido.
A irmã e o marido merecem um parágrafo só deles. Eu tenho um bom coração e acho o cara gente fina, apesar do fato dele gritar sempre que está em casa e também porque é muito bunda mole com a esposa (a menina grita e briga pra caralho com ele e, apesar de às vezes ele retrucar de um jeito espertinho e engraçado, na maioria das vezes ele só obedece e concorda). Já a menina, esposa dele, irmã do Jason trainee, que deve ter uns 20 anos, cabeça de 13 e cara de salgado de terminal é provavelmente a pior. Ela não fala, só grita. Pra tudo. Se precisa chamar a mãe, ela não anda um pouco e usa o volume médio da voz, ela grita ''MÃÃÃÃE, VEEEEM COMEEER''.  O cachorro tá mordendo algo que não é pra morder? Ela não levanta e tira o objeto da boca do cachorro, ela grita ''SOLTA!! NÃO!''  por meia hora, até o cachorro assimilar que se ele largar o que tem na boca, ela para de agir como uma imbecil. Ah, e ela também canta canções gospel, e às vezes acordo com o barulho de 30 gatos sendo penetrados por cenouras, só porque ela resolveu louvar o criador e me atrapalhar quando estou vendo A Família Soprano.
É claro que poderia ser pior, e eu poderia ter vizinhos piores, como a seita do Charles Manson, mas sabem como é, não vou nivelar por baixo.