quinta-feira, 23 de abril de 2015

Fotografia

Ela não se vê. Compara-se e enxerga defeitos. Às vezes, uma dobrinha aqui e ali, uma cara de eternamente cansada. Outras vezes, o nariz que poderia ser mais arrebitado, a perna que poderia ser mais atlética, a barriga que poderia não ser. Em alguns momentos, vê apenas uma carne desfigurada e imagina que não teria conserto. Porque não tem dinheiro. Ou porque não acredita que exista um cirurgião tão capaz. Os amigos próximos falam da beleza daquela mulher na capa da revista. Elogiam a garota que passou a caminho da academia e dizem que ela deveria seguir tal exemplo. Ela concorda, mas nada comenta sobre a dieta que faz há tempos e que a priva das coisas que realmente gosta. E que nao funciona. Porque provavelmente não está fazendo direito, pensa. "Não consigo deixar de ser burra", "Sou um atraso de vida", "Por isso não arranjo ninguém que goste de mim". Ela não se vê. Cobra-se. E respira fundo, tentando inutilmente conter o soluço e as lágrimas. Está anoitecendo e ela morre junto ao dia.

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