Hoje eu estava em
um shopping com minha mulher e meu filho quando vi uma menina beijar a
outra. Na boca. É, na boca. Nojento, claro. Na hora peguei meu filho no colo e
tapei os olhos dele, para que ele não visse duas pessoas demonstrando afeto e
amor. Quando passamos ao lado delas, chamei-as de lixo e falei que deveriam
morrer. Não tampei os ouvidos do menino para que ele pudesse ouvir o paizão
agindo certo. Fomos ao cinema ver um filme onde centenas de pessoas morrem de
forma limpinha, como na realidade. Preciso educar o moleque desde cedo.
Depois do filme
terminar, ele queria ir brincar no parquinho, mas puta merda, eu não
tenho saco pra brincar com criancinha e mandei minha mulher ir lá com ele
brincar. Fui tomar uma cervejinha e dar uma olhada nas gostosas. Que erro,
amigos. Quando sento com meu Chopp, na mesa ao lado, o que eu vejo? Um
casal de bichonas, claro. Fiquei olhando, incomodado com eles. Vocês acreditam
que eles estavam sentados um do lado do outro, bem pertinho? Fiquei puto.
Estava só esperando um pegar na mão do outro, como se fossem um casal
de verdade. Opa, pegaram. Filhos da puta!!! Levantei e fui na frente deles,
falar poucas e boas:
-Escuta aqui vocês dois! É, vocês dois aí de mãozinha dada, fazendo nada contra minha
integridade física ou moral, cuidando das suas próprias vidas em um local
público. Que putaria é essa? Pegando na mão do outro. Que porra é essa, cara?
Tua sorte é que deixei minha arma em casa. Aham, a arma que eu não tenho
direito de usar, eu deixei em casa, senão eu dava um tiro na tua cara de
viado, seu viado.
E saí de perto, confiante que, porra, fiz o certo. Claro que fiz o
certo, porque hoje todo mundo acha lindo, e eu, o certo, sou chamado de
opressor. Logo eu, homem, branco, hétero, classe média, que nunca teve nenhum
problema com nada, nunca fui nem molestado quando menino e minha mãe assoprava
meu dodói depois de passar Mertiolate. Eu não preciso, e não aguento, ver coisa
errada assim. Fui encontrar minha mulher e o filhote, pra irmos embora.
No caminho pro
parquinho do shopping escuto uma música dentro de uma loja. É samba.
Música de preto. Acelero o passo.
Na frente da Centauro encontro um antigo amigo
meu, do tempo de escola, quando eu tinha cabelão liso até a cintura e a
meninada adorava. E eu tocava violão, podia escolher qual menina eu queria pra
dar um trato. A gente dá um abraço, pergunta como vai a vida e ele me pergunta
da dentista aqui de Curitiba, que era traficante, e também comenta de uma foto
que viu no Facebook, mostrando que cada cidade tem traficante que merece, com
uma foto dela e uma foto de um traficante pretinho do Rio de Janeiro. Falo que
aqui é assim, que o cara vem pra Londres, até traficante é gata, né? Aí, depois
de um papo rápido, vou finalmente atrás da minha mulher. Pego ela e vamos
embora, achando que o sossego do lar me espera.
No carro,
conversando com ela, ela me fala que amanhã é dia de pagar funcionário. Que
merda dar dinheiro pra essa gente. Ela fica falando e eu me distraio,
encostando em outro carro. FILHO DA PUTA!! Cara, fico puto e saio do
carro, o outro cara também, bravo comigo. Tiro meu soco inglês do bolso e
encho a cara do viado de porrada. A mulherzinha dele grita de dentro do carro,
e eu falo pra ela ficar lá, senão leva na cara também. Depois de ensinar o
cara a não ser burro, pego meu carro e vou embora.
Chego em casa, pego meu violãozinho, acendo meu baseado (depois do
moleque dormir, pra ele não ver. Porque é errado) e fico de boa. Amanhã,
amigão, é outro dia, outra luta.